A terra do nunca
Sinto-me arrastada para um buraco negro, com os braços e as pernas agitarem-se descontroladamente, incapaz de parar ou de abrandar. Sinto-me a cair no interior da escuridão como um peso morto e o grito horrível que produzo é o único som que consigo ouvir. E quando já tenho a certeza de que esta queda não tem fim, tudo pára. O grito. A queda. Tudo. Mas tudo mesmo. Deixando-me suspensa. Sem nada onde me apoie. A pairar. Totalmente só neste local solitário desprovido de princípio e de fim. Perdida neste abismo negro e sinistro onde não entra um única luz. Abandonada neste vazio infinito, num mundo perdido e isolado feito só de meia – noite. Lentamente invadida pelo horrível compreensão do que está a acontecer-me.
É aqui que eu agora vivo.
Num inferno de onde não posso fugir.
Tento correr, gritar, pedir socorro – mas e inútil, estou petrificada, paralisada, incapaz de falar, completamente só para toda eternidade. Afastada, por um propósito que não distingo, de tudo o que existe. Sabendo que não tenho outra opção senão ceder e render-me quando a minha mente se esvazia e o meu corpo perde a força. Não vale a pena estar a resistir quando não há quem salve. Fico assim, sentindo dominada por uma consciência sombria que emerge de um local que está fora do meu alcance.
Até que..
Até que..
Sou arrancada a esse inferno e surjo nos braços de alguém.